O que é um MONGE ?
Graciosa Luza Wiggers
Psicóloga e especialista em RH
O monge é um homem chamado pelo Espírito Santo a renunciar aos cuidados, desejos e ambições dos outros homens para dedicar toda a sua vida à procura de Deus através de uma vida inteiramente consagrada. O conceito é conhecido, mas ninguém pode procurar a Deus, a não ser que já tenha começado a encontrá-lo, sem que primeiro Deus o tenha encontrado. O monge é o homem que procura Deus porque por Ele foi achado. Em resumo, um monge é um "homem de Deus".
Uma vez que todos os homens foram criados por Deus para que O pudessem encontrar, todos são, de certo modo, chamados a serem "homens de Deus". Mas nem todos são chamados a SER MONGES . Um monge, é alguém chamado a se dar exclusiva e perfeitamente ao único necessário a todos os homens – A BUSCA DE DEUS .
A outros lhes é permitido procurar a Deus por caminho menos direto,evangelizar na multidão, levar Cristo aos irmãos, vivendo em comunidades sociabilizadas com meio ambiente e com ele interagindo – como o fazem muitas congregações de religiosos. Outra vocação é levar no mundo uma vida digna, fundar um lar cristão.
Mas o monge põe essas coisas de lado, embora boas. Dirige-se a Deus pelo atalho direto. Retira-se do "mundo". Entrega-se inteiramente à oração, à meditação, ao estudo, ao trabalho, à penitência, sob o olhar de Deus. A vocação do monge se distingue até das outras vocações religiosas, pelo fato de que ele se dedica essencial e exclusivamente à busca de Deus.
A vocação monástica tem tendência a se apresentar ao mundo moderno como um escândalo.
Numa cultura materialista, o monge se torna incompreensível porque ele "não produz aparentemente nada". Nem mesmo os cristãos têm sido isentos desse pensamento por causa da APARENTE "inutilidade" do monge. Mas, o Mosteiro é uma espécie de dínamo que, embora não "produza" financeiramente - a graça, consegue o bem-estar espiritual infinitamente precioso para o mundo.
A lei mais profunda no ser do homem é a necessidade de Deus, de vida. Deus é vida. "Estava nele a VIDA e a vida era a luz dos homens E a luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam" (Jo 1,4-5).
Compreender a luz que brilha é a maior necessidade que têm nossas trevas. Por isso, Deus deu aos monges o discernimento de viverem plenamente seu primeiro mandamento: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças". A vida monástica é a vida daqueles que tomaram o primeiro mandamento com a maior seriedade, e, como diz São Bento, "nada preferiram ao amor de Cristo".
Mas quem é Deus? Onde está?
Deus, é O Santo, o Invisível, o Todo-Poderoso é infinitamente maior e mais real do que qualquer abstração inventada pelo homem. Mas Ele próprio disse: "O homem não me pode ver e viver"(Ex 33,20). Entretanto, o monge persiste em exclamar com Moisés: "Mostra-me a Tua face" (Ex 33,13).
O monge, portanto, é alguém que procura tão intensamente a Deus que está pronto a morrer para poder vê-LO. Por isso é que a vida monástica é um "martírio" bem como um "paraíso"; uma vida ao mesmo tempo "angélica" e "crucificada".
Deste esvaziamento do mundo, O DEUS BENDITO com sua graça preenche o MONGE com sua força e sua riqueza espiritual São Paulo resolve, do seguinte modo, o problema: "Deus que disse: ‘Do seio das trevas brilhe a luz' foi quem fez brilhar sua luz em nossos corações, para que façamos brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Jesus Cristo" (2Cor 4,6).
A vida monástica é a rejeição de tudo que obstrui os raios espirituais dessa misteriosa luz. O monge é alguém que deixa atrás de si a ficção e as ilusões de uma espiritualidade meramente humana, para mergulhar na fé em Cristo. A fé é a luz que ilumina o monge neste mistério. É a força que se apodera das íntimas profundezas de sua alma e o entrega à ação do Espírito divino. Espírito de liberdade. Espírito de amor. A fé O segura e, como outrora fez com os antigos profetas, "firma-o sobre seus pés" (Ez 2,2) diante do Senhor. A vida monástica é vida no Espírito de Cristo, vida em que o cristão se dá inteiramente ao amor de Deus que o transforma na luz de Cristo.
"O Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, ali está a liberdade. E todos AQUELES que, com o rosto descoberto, refletem como espelhos a glória do Senhor, são transformados nesta mesma imagem, cada vez mais resplandecente, conforme a ação do Senhor, que é ESPÍRITO " (2Cor 3,17-18). O que São Paulo diz da vida interior de todo 0 cristão, torna-se, em realidade, o principal objetivo do monge vivendo em solidão no claustro. Procurando a perfeição cristã, procura o monge a plenitude da vida cristã, a inteira maturidade da fé cristã. Para ele, "viver é o Cristo".
Para estar livre da liberdade dos filhos de Deus, renuncia o monge ao exercício da sua própria vontade, ao direito à propriedade, ao amor do conforto e do bem-estar, ao orgulho, ao direito de fundar uma família, à faculdade de dispor do seu tempo como bem entender, a ir aonde quer e a viver conforme bem lhe parece. Vive só, pobre, em silêncio. Por que? Por causa DAQUELE em quem ele crê. Crê na palavra de Cristo que prometeu: "Em verdade vos digo: Não há ninguém que tenha abandonado a casa ou os pais, ou os irmãos, ou a esposa, ou os filhos, por causa do reino de Deus, e que não receba muito mais no tempo presente, e, no século futuro, a vida eterna" (Lc 18,29-30).
O MONGE E O MUNDO
O mosteiro não é nem um museu, nem um asilo. O monge permanece no mundo que abandonou, e é, nele, uma força poderosa, embora oculta. Para além de todas as tarefas que poderão acidentalmente se ligar à vocação do monge, este age sobre o mundo pelo simples fato de ser monge. A presença dos contemplativos é para o mundo o que o fermento é para a massa, pois há vinte séculos o próprio Cristo declarou nitidamente que o Reino dos céus se assemelha ao fermento oculto em três medidas de farinha.
Mesmo sem nunca sair do mosteiro em que vive, nem pronunciar uma palavra ouvida pelos demais homens, está o monge inexplicavelmente envolvido nos sofrimentos e problemas da sociedade a que pertence. Deles não lhe é possível escapar, nem ele o deseja. Não está isento de prestar serviço nas grandes lutas de seu tempo, antes, como soldado de Cristo, está designado para tomar parte nessa batalhas, combatendo no "front" espiritual, no mistério, pelo sacrifício de si próprio e pela oração. Isso ele faz unido a Cristo crucificado, unido também a todos aqueles por quem Cristo morreu. Está consciente de que o combate não está dirigido contra a carne e o sangue, e sim "contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados nos ares" (Ef 6,12).
O mundo contemporâneo está em plena confusão. Está atingindo o ápice da maior crise na história. Nunca, antes, houve tamanha reviravolta na raça humana inteira. Forças tremendas: espirituais, econômicas, tecnológicas e políticas estão em constante questionamento . A humanidade se vê à beira dum abismo de nova barbaria; restam, todavia, ao mesmo tempo, possibilidades quase incríveis de soluções imprevistas, a criação de um mundo novo e de uma nova civilização, tal como jamais se viu.
Neste mundo em perpétua mutação, permanece o monge como baluarte de uma Igreja que não muda, contra a qual as portas do inferno não podem prevalecer. É verdade que a própria Igreja se adapta, porque é ela um Corpo vivo, um organismo em constante crescimento. Onde há vida, tem de haver desenvolvimento. Na ordem monástica, também deverá manifestar-se adaptação, desenvolvimento, crescimento.
Diante de Deus, diante dos homens, diante do mundo de concupiscência, seu antagonista, está o monge carregado de tremenda responsabilidade, a responsabilidade de continuar a ser aquilo que seu nome significa: um monge, um homem de Deus. Não apenas alguém que abandonou o mundo, mas alguém capaz de representar Deus neste mundo que o Filho de Deus salvou pela morte na Cruz.
(AQUELE QUE SE SENTIR CHAMADO PARA ESTA VOCAÇÃO – entre em contato com ABADIA DA RESSURREIÇÃO – Colônia Eurídice Fone (0xx-42 3228-0043 –PONTA GROSSA – PR ou http://www.ressurreicao.org.br/vidamonastica.htm )
sábado, 2 de junho de 2007
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